Rugas de Sorrisos

É importante e urgente silenciá-la...

A solidão também fala!

Quem não sente falta de companhia, não tem noção do que a solidão diz a quem a vive...

Aqui fica o resumo da semana com um senhor que ainda consegue surpreender-nos.

Esta semana andou aflito dos dentes. Nos primeiros dias, tinha o queixo inchado e ainda lhe propus levá-lo ao médico…mas foge do médico como da cruz e disse logo que não. “Amanhã se não estiver melhor já vemos…” Diz-me ele sem o sorriso e boa disposição habitual. “Compra-me mas é os telemóveis, que já tos pedi ao tempo e nunca te lembras. Se me acontece alguma coisa como é que te ligo?” Continua ele.

Sim, tem razão ao tempo que pediu dois telemóveis (quer dois porque enquanto trago um para carregar, ele fica com o outro) e de dia para dia deixo andar. Preferia compor-lhe a casa, colocar luz, água… mas as burocracias e a papelada fazem a situação arrastar-se e obras pequenas ninguém as quer.

Andamos nisto… e o tempo vai passando.

A dor de dentes e o inchaço também passou e terminámos a semana mais animada. Ontem conseguiu fazer a barba e estava feliz por isso.

“Ai rapariga se tu visses o surro que saiu! E o tempo que demorei… estou a perder as forças e tu não paras aqui ao pé de mim tempo nenhum…” Diz pensativo.

E é verdade. Para quem está só, o que a nós nos parece muito, no fundo não é nada.

Ofereci-me para o ajudar a tomar banho. Teria de arranjar um espaço para o fazer, mas pensava nisso depois.

Mas tirou-me logo as ideias com um: “Não saio daqui, mas podes ajudar-me a lavar aos poucos… sim um homem nunca se descalça dos dois pés!” E ri-se antes de continuar “ Também tens de me limpar a casa. Não fazes nada de jeito!”

E quem me dera conseguir! No momento que ele diz isso olho para dentro de casa, para um acumular de tralhas que ele gosta de ver espalhadas e onde não me deixa sequer tocar.

 “ Oh Sr. Zé ainda no outro dia lhe arrumei a mesa e tentei dar um jeito nas coisas… nem o saco do lixo me deixou levar!” Respondo-lhe eu sabendo que por muito que tente, não vou conseguir arrumar nada.

“Só tens de fazer o que te peço e eu gosto de ver as coisas… é o que enche uma casa…”

E talvez a encha mesmo! Pelo menos a dele… está assim habituado e diz-mo todos os dias.

E também todos os dias inventa uma desculpa nova para ver se eu fico mais um bocadinho.

Sim o que o Sr. Zé quer, não é que lhe arrume a casa, dê banho ou lave a roupa… só quer companhia para conversar.

E por vezes quem não sente falta destas coisas, não tem noção do que a solidão diz a quem a vive. E a importância e urgência de a silenciar…!