porque natal é essencialmente isto… deixarmos sempre presente a promessa da nossa presença.
“Oh minha querida eu não me entendo com isto! Isto é para ti…” diz a olhar para o telemóvel que segura na mão com medo de estragar.
Está feliz! Com receio, como temos todos quando começamos algo que não sabemos como fazer, mas queremos fazer bem.
Disfarça as lágrimas e quando me vê a olhar para o meu telemóvel pergunta:
“Tás a filmar?”
“Não só tirei uma fotografia…” mas já nem ouve! Está outra vez de olhar fixo no seu.
“Temos de combinar uma hora para me ligares. Não sou como tu e não vou andar agarrado a isto o dia todo… já não tenho mãos, nem vista…”
E começa a tirar tudo o que vem na caixa.
“Vá ensina-me cá para que é que isto serve…” diz-me com a bateria na mão e o carregador na outra.
E ensino… mesmo não tendo luz e não podendo carregar em casa, gosta de saber.
Colocamos o cartão, a bateria e ligamos o telemóvel… e escolhemos o toque. Essa foi a parte mais difícil… todos lhe pareciam bem.
Para primeira lição ensino que o verde é para ligar, o vermelho para desligar e os três números de marcação rápida, o meu, da GNR e dos bombeiros, caso venha a precisar… mas essa parte já é muito para um dia só.
Vá agora vamos ver se ouve. Afastei-me de casa e liguei… a primeira vez rejeitou, a segunda vez não me ouvia falar, a terceira ligou sem querer e não esperou que eu atendesse e a quarta correu bem… liguei e atendeu mas ouviu-me e chorou.
Uma mistura de emoções, que devíamos todos permitirmo-nos sentir. O silêncio também fala e eu aprendo sobre ele diariamente… e dou comigo a tentar responder-lhe o melhor que sei.
O silêncio é inteligente e nem sempre encontro resposta adequada, mas tento.
Ensinar a mexer num telemóvel não é nada, comparado com o que este senhor me ensina com a sua maneira de estar na vida, tão diferente da minha, mas não menos importante.
Obrigada! Diz ele quando me aproximo outra vez… e acho que não é o telemóvel que agradece…
“Ai não gosto nada de te ver essas unhas vermelhas…” diz a tentar controlar as lágrimas que aparecem outra vez.
“Mas gosto eu!” E deixo-me rir e ele ri também.
Hoje levei-lhe frango e batatas no forno, porque é o que gosta mais e porque tem medo das espinhas do bacalhau.
Não liga às tradições e diz que o Natal é a festa dos falsos… terá alguma razão. Mas também é a festa dos afetos, da partilha numa mistura do que fomos e somos.
Custa virar costas e deixá-lo só mas afasto-me depois de um abraço e de prometer que volto mais tarde… porque natal é essencialmente isto… deixarmos sempre presente a promessa da nossa presença.
Feliz Natal!
Associação de Apoio Social
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