Rugas de Sorrisos

Talvez não seja profissional dizer isto mas gosto tanto deste senhor!

O senhor ZÉ

Companhia que ouça e responda… companhia que faça rir e chorar… companhia que irrita e deixa saudade… companhia… só porque sim!

O Senhor Zé…

E a sua forma genuína de ser.

Talvez não seja profissional dizer isto mas gosto tanto deste senhor!

Na semana passada, na última visita da semana que lhe fiz, na hora que de me vir embora, sentou-se à entrada de casa de lágrima no olho e a sorrir.

Na brincadeira digo-lhe para se decidir, ou chora, ou sorri, as duas coisas não pode ser…

Mas continua a chorar e a rir e diz-me que na idade dele já pode tudo.

“ A satisfação de te ver chegar é a tristeza de te ver ir embora…” continua ele enquanto limpa as lágrimas com o lenço.

E por momento fico sem saber o que dizer. Sabe sempre a pouco tudo o que se faz e como ele diz e bem eu pouco ou nada sei…

É uma aprendizagem constante quando tentas combater a solidão.

A solidão é manhosa e fala… Ela sabe várias línguas e tem formas tão estranhas de se exprimir!

O senhor Zé…

Diz-me que não, quando quer dizer sim… diz-me que preciso de lhe fazer a cama, mas depois tenho tempo (e ainda ando com cobertores, édredon e lençóis no carro), diz-me que tenho de limpar a cozinha mas quando vou para o fazer diz que não combinamos aquele dia e no fim… tudo isto se resume a querer só e simplesmente companhia!

Companhia que ouça e responda… companhia que faça rir e chorar… companhia que irrita e deixa saudade… companhia… só porque sim!

A companhia que dá sentido à vida e que por muito pouca que seja vai matando a solidão…

Porque é a companhia que se desvaloriza a chave que nos salva, que nos olha, sorri e abraça.

E antes de vir embora abracei o senhor Zé que volta a chorar e já não ri.

Quando ponho o carro a trabalhar, bate no vidro para me pedir só que não me esqueça dele e que volte sempre…

E enquanto for possível defender esta camisola, voltarei…

Helena Saraiva