Rugas de Sorrisos

Para um dia eu poder contar... se a memória não me falhar!

Dias diferentes

...gostaria muito de ser mais do que um número de estatística.

Filomena Crespo é o nome que acrescento à minha história! Um dia quando for eu a precisar do Rugas de Sorrisos, e se a memória não me falhar, tenho muitas histórias boas para contar e esta é uma delas. Ontem estive na Antena 1 a ser entrevistada por esta senhora maravilhosa. Esta senhora que estava preocupada com a distância que percorri e com o pouco tempo que tinha para mim. Como se isso tivesse importância, quando comparado com a possibilidade que nos estava a dar! É verdade… quando falamos das coisas em que acreditamos sabe sempre a pouco e o tempo parece que voa! No meu caso quando  estou com o microfone à frente parece que tenho um bloqueio cerebral e quando  finalmente começo a desentorpecer a língua, acaba o tempo e tiram-me o som.

Mas vale sempre a pena e esta é mais uma experiência que já ninguém me tira.

O que me levou lá? O mesmo de sempre! A nossa realidade enquanto projeto pioneiro no distrito e a realidade do mesmo…

Sim… ainda recentemente os Censos Sénior da GNR nos confirmaram que a nível nacional a Guarda mantém o segundo lugar, sendo o segundo distrito com mais idosos sozinhos e isolados e do ano transato para este, não houve melhorias, pelo contrário, o número aumentou, estando neste momento com cerca de 4183 idosos em situação de vulnerabilidade.

Com o intuito de combater esta realidade cada vez mais saliente e preocupante criámos o Rugas de Sorrisos que pretende combater a exclusão social, o isolamento e tudo o que isso acarreta, retardando a institucionalização e fazendo um acompanhamento personalizado e que vá de encontro às necessidades de cada um, respeitando a sua história e as suas vontades.

Este projeto nasceu em 2014 e em 2017 foi apoiado e implementado pela junta de freguesia de Trancoso, permitindo acompanhar 34 idosos, durante um ano e foi extremamente útil para os idosos que acompanhámos nas suas casas, idosos estes que a institucionalização não fazia parte das suas opções.

Por ter corrido tão bem, criámos ainda em 2017 a Associação para podermos manter os nossos serviços em Trancoso e alargar o nosso raio de ação também para a Guarda. E, durante esse período conseguimos melhorar a qualidade de vida destas pessoas que precisam de cuidados, companhia, acompanhamento, auxilio em atividades práticas do seu dia a dia, auxilio na saúde, desenvolvendo atividades lúdicas e de bem estar, dando-lhes voz e respeitando a sua individualidade e necessidades com afeto.

É de pessoas sem condições e de outras com todas as condições, e que de repente param de trabalhar, ficam viúvas, ou que a saúde já limita, pessoas que têm os filhos longe, ou que não tem filhos e se encontram numa sociedade que se atropela e não tem tempo para nada, que é importante falar.

Porque quando se criam projetos como o nosso, não há apoios.

E, até quando vamos ignorar esta realidade? Até quando vamos ignorar que os números assustadores que são notícia têm um rosto e uma história associada? Todos os dias ouvimos falar em criar boas práticas. Todos os dias ouvimos falar num envelhecimento ativo e saudável, mas os apoios são escassos.

Atualmente a Associação subsiste com apoios de algumas entidades que nos permitem manter de pé, mas não têm sido suficientes para podermos fazer o que gostaríamos, nem para termos uma equipa multidisciplinar por exemplo.

Fizemos três candidaturas, uma para a capacitação, que já foi aprovada e que acreditamos nos vai permitir crescer e melhorar em várias áreas e duas para as parcerias de impacto, uma das quais em parceria com a Câmara Municipal de Trancoso, mas que ainda estão em análise. Queremos muito que sejam aceites, mas mesmo que isso aconteça ainda demora e até lá gostaríamos de ter outras ajudas, porque acreditamos mesmo que este projeto é importante. Aposta-se muito em lares e eles são cruciais, mas e que resposta damos a quem não quer, ainda, ir para um? Nós queremos dar essa resposta!

Na sua base este é um projeto social e nesse sentido precisa de financiamento para darmos resposta aos idosos isolados, sem família e sem rendimentos mas que precisam de apoio. E são esses apoios que pedimos e que precisamos.

E foi para isto que, em nome da Associação tive a possibilidade de ir à Antena 1, para apelar à importância e necessidade do projeto, para que um dia quando formos nós, alguém se interesse em saber também a nossa história e como foi o nosso percurso…

Sim hoje são eles, mas amanhã vamos ser nós e eu pessoalmente gostaria muito de ser mais do que um número de estatística.

Obrigada Filomena pelo carinho com que me recebeu e obrigada Antena 1 por nos dar voz.

Mais novidades em breve… Até lá!