Rugas de Sorrisos

Dar cor aos seus dias...

(in)Dependência do Envelhecimento

“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.” - Séneca

Nos dias de hoje o desafio (ainda) é promover um envelhecimento bem sucedido e com qualidade de vida.

O primeiro passo para esta “transformação” é rejeitar a visão homogênea e reforçar  a heterogeneidade da pessoa, ou seja, valorizar a  individualidade, independentemente da idade e da presença (ou não) de limitações.

Foi esta visão que permitiu à Maria, uma senhora com pouco mais de 80 anos, sobreviver ao negativismo que rotulam sobre envelhecer.

A Maria foi cuidadora do seu marido, de seu nome – Joaquim.

A Maria encarou o envelhecimento com uma visão heterogênea e positiva.

A Maria preservou valores como a dignidade, a autonomia e a solidariedade. E foram estes valores, que permitiram que o senhor Joaquim fosse feliz e tivesse um envelhecimento digno, mesmo estando deitado a maioria do seu tempo, o tempo que nunca mais passava.

 “Há uma idade na vida em que os anos passam demasiado depressa e os dias são uma eternidade” – Virginia Wolf.

É esta visão, heterogênea, que o cuidador deverá assumir nesta fase de vida, que começa bem mais cedo do que os 60 anos. Até porque, se respeitarmos a individualidade de cada um, não haverá idade para se envelhecer.

Se perguntarmos à senhora Maria como é ser cuidadora de uma pessoa acamada, que depende de outra pessoa na maioria das vezes, ela vai responder que não é fácil, mas que o amor, vence as adversidades da vida. A sua solidariedade, a sua força de vontade e a sua dedicação como cuidadora, foi o que a fez chegar até à outra espécie de cuidadores, que não sendo família, são o colo (especializado) que eles tanto precisavam. E este pedido de ajuda não significa que a Maria não fosse capaz, mas sim que também ela, precisava de ser cuidada e orientada para que ambos, pudessem envelhecer com dignidade, com autonomia.

Cuidar é um verdadeiro encontro com o outro. Criam-se laços de confiança, compreensão, proximidade e empatia. E são estes laços que permitem aos profissionais de saúde, aos cuidadores formais assegurar os cuidados básicos da pessoa idosa, através de um acompanhamento individualizado e adequado ao contexto familiar, visando sempre o seu bem-estar e maximizando as suas potencialidades para uma vida com mais qualidade e ajustada à sua realidade.

São inúmeros os desafios nesta caminhada que é cuidar de alguém com dificuldades e/ou limitações. As alterações e/ou dificuldades presentes num corpo passivo (acamado), podem revelar-se nos vários domínios: motor, cognitivo, sensorial, social e/ou emocional, como por exemplo as alterações na mobilidade, no equilíbrio, na linguagem, na memória, na sensibilidade, entre outros.

O senhor Joaquim pouco ou nada falava antes da presença do “colo especializado”, pouco ou nada se movia, e seis meses, foi o tempo necessário para acordar partes adormecidas. A senhora Maria durante esse tempo, ficou também mais calma. Passou a dormir melhor, com menos períodos de stress e com menos dores musculares. Ambos ganharam (mais) vida, mesmo estando no final de linha.

Esta é uma caminhada que não se pode percorrer sozinho, mas entre cuidadores (familiares e técnicos).

“Deve-se agir para que o tempo a mais de vida seja também um tempo rico em vida (…) e que não se limite a uma espera, por vezes vivida como uma espécie de fardo”. – Hesbeen, 2000

Ana Silvano