O medo, as preocupações, as necessidades de afetos também são sentidas e vividas pelo interior.
Em 2015, o Instituto Nacional de Estatística [INE], anuncia o 5º lugar para Portugal como um dos países europeus mais envelhecidos. Na mesma fonte, é possível observar que se espera um aumento da população envelhecida, bem como um aumento do índice de dependência no nosso país.
Em 2019, no mês de outubro, a Guarda Nacional Republicana [GNR] sinaliza mais de 40 000 pessoas idosas a viverem sozinhas e isoladas em todo o país, no âmbito dos Censos Sénior. Sendo o distrito da Guarda um dos que apresenta um maior número de sinalizações de pessoas idosas em situação de vulnerabilidade. Na verdade, está em segundo a nível nacional.
Estes dados devem sensibilizar-nos para a necessidade crescente de novas medidas de apoio e de/com qualidade. Medidas que estejam e sejam orientadas para as necessidades das pessoas idosas residentes no nosso país. Medidas que não se esqueçam que viver no interior e no litoral, não é a mesma coisa e que as oportunidades não são as mesmas. E, atenção que não quero inferir que viver no interior significa não ter qualidade de vida, apenas os recursos e as oportunidades são outras.
O isolamento social das pessoas idosas é uma realidade. E no interior existe em demasia pela escassez dos recursos! As necessidades não são ouvidas e compreendidas, e os apoios nem sempre chegam. Também precisamos de ser ouvidos!
Esta pandemia do Covid-19, para muitas pessoas desta geração com mais idade, foi só mais uma pandemia, só mais uma situação em que a sua fome aumentou, em que a sua solidão se fez sentir.
Precisamos de parar e refletir sobre a importância de cuidados centrados nas pessoas.
A quarentena, espero, foi tempo disso.
Esta “bomba” que parou o mundo, o país, espero que nos faça refletir sobre as desigualdades que já existiam e que agora tendem a aumentar, no sentido de facilitar e fornecer apoios realmente ajustados e direcionados às reais necessidades das pessoas idosas em situação de vulnerabilidade.
O medo, as preocupações, as necessidades de afetos também são sentidas e vividas pelo interior. As notícias fazem-se ouvir, em grande parte, por pequenos rádios em casas de pedra, onde habita apenas um corpo assustado e confuso.
Como podemos minimizar as diferenças entre o interior e o litoral do país na prestação de cuidados e apoios?
Como podemos abraçar um corpo que toda a vida esteve só?
Como podemos atenuar o impacto desta situação real no antes e após covid?
Como podemos dar (mais) qualidade de vida a estas pessoas?
São várias as questões que me inquietam há alguns anos para cá e não só agora com a pandemia.
Ao leitor, fica um apelo para uma reflexão sobre o cuidar em tempo de pandemia.
Ana Silvano | Psicomotricista
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