É um dos nomes que dão cor aos nossos dias. Um entre muitos que já fazem história aqui. Foi referenciada pela GNR. Que sorte temos em ter profissionais de excelência aliados a nós. Abrem-nos portas fazendo a ponte e identificando situações que nos acrescentam tanto valor.
Este trabalho em rede permitiu-nos conhecê-la e que privilégio o nosso. Hoje quero que a conheçam também, ainda que, tenha a sensação que por muito que vos diga, nunca vos direi tudo.
Tem olhos castanhos onde cabe o mundo, um sorriso tímido, acompanhado de um abraço sentido. Daqueles em que se saboreia cada segundo do que nos oferece. União aliada a partilha. Passagem de um coração para outro.
Tive entrada direta no seu. Já mo disse, mas senti-o.
Não vê televisão para poupar na luz, vai buscar garrafões de água à fonte, para gastar menos da água da rede e no inverno nunca tem frio e raramente acende a lareira.
Mas à quinta feira, os dias dos nossos almoços convívio, acendia a lareira para nós, e agora que a lareira já não é precisa continua a dizer-nos para ligar a televisão se quisermos e que podemos gastar a água da torneira, se precisarmos.
Gosta de colocar creme hidratante, de caminhar no corredor da casa de mão dada connosco, de falar ao telefone com a irmã que agora está em Lisboa.
Também há coisas de que não gosta. Mas silencia-as. Água, não bebe a que devia. Faz caretas quando lhe digo que tem de beber um litro e meio por dia, como se eu não estivesse boa da cabeça, e logo me sorri quando a abraço.
Neste momento está hospitalizada. Antes disso, em casa teve dias difíceis. Liguei num deles, em que estava na cama e com febre, confessando que ia visitá-la, mas que passaria quando estivesse melhor. Mandou-me ir, que já ia levantar-se.
E levantou.
Meia hora depois encontrei-a na cozinha sentada na cadeira habitual à minha espera.
E mal me viu chegar disse:
“Agora estou doente, mas estou feliz, porque está aqui!”
E em todas as visitas que lhe faço, volto de lá grata pela vida que escolhi. É nestas horas que dou razão a quem inventou a frase, de que quem trabalhar a fazer o que gosta, não trabalha.
Neste momento vou visitá-la ao hospital. Mas a receção é igualmente calorosa.
Emociona-se e agradece cada visita. Fica feliz.
“É tão bonita! Está cada vez mais bonita!” É a primeira coisa que me diz mal me vê chegar. E olha-me com aqueles olhos cheios de amor que me deixam sem jeito, sem argumentos e me fazem sentir cada vez mais bonita mesmo. De dentro para fora. Como não ficar? Como não me sentir? Quando temos exemplos destes a ensinarem-nos a ser pessoas melhores todos os dias?
E depois de olhar para mim em silencio, me contar o que aconteceu desde a última vez que estivemos juntas, ainda acrescenta frases como estas:
“Menina Helena gosto tanto de si, nem imagina! Mas a menina também gosta mesmo de mim, para vir tantas vezes!” ou “Ainda ontem cá esteve e já aqui está outra vez!”
E eu brinco para espantar a lágrima dela, e a minha.
E no fim, na despedida, não se esquece de ninguém: “Mande lá beijinhos a todas as suas colegas. À Daniela, à Patrícia e às que eu já não me lembro o nome… a todas!”
E eu mando. E vou continuar a ir. Não tantas vezes como gostaria e ela merece, mas as que posso.
Não sei se a visito por ela, ou se por mim. Fico a ganhar com cada visita que lhe faço. Sabe bem ver-me através dos seus olhos. São genuínos, generosos, transparentes e refletem um amor desmedido, desinteressado, altruísta.
Desde que a conheço que é assim.
Oferece o que não tem, quando nós lhe damos o que nos oferecem.
Percebem a diferença?
Ontem disse-me que pensa cada vez mais na morte e isso reforçou a minha vontade de desfrutar deste intervalo a que chamamos vida, visitando pessoas como ela.
Até no hospital, me recebe como em casa e me ensina sobre amor e bondade.
Haverá melhores lugares para visitar e onde nos demorar, do que em pessoas assim, que nos ensinam sobre prioridades?
Helena Saraiva
Associação de Apoio Social
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