Rugas de Sorrisos

Promover a inclusão social também é amor

Somos Todos Natal!

Estar, Escutar e Ser Presença. Com Afeto e Tempo. Tão simples e com um serviço adaptado e uma equipa multidisciplinar: A nossa!

“O natal é dos pobres! Porque é dia de festa e em dias de festa a mesa está sempre cheia…” palavras do Senhor Zé, que já não celebrava o natal com companhia, desde que a mãe morreu em 1984.

Adiantámo-nos no dia e que bem seria se nos adiantássemos em dias que simbolizam o amor mais vezes.

Ainda me emociono ao relembrar a noite de ontem. Emociono-me porque o Sr. Zé é educação, respeito e bondade, porque consegui abrir caminho num coração que já se tinha fechado para o mundo e porque consegui cumprir algumas das promessas que lhe fiz. Emociono-me porque apesar das limitações, ajustes e reajustes que se vivem, este ano soube-me a natal, antes do dia e porque este ano o Senhor Zé aceitou festejar e sente que já tem motivos para isso.

Emociono-me porque o Senhor Zé é amor e entrega, num misto de bondade, generosidade, autenticidade e riso fácil.

Está feliz por mim, porque aos poucos vou conseguindo levar o meu sonho para a frente e ao fazê-lo, sou eu que fico feliz, porque realizo alguns dos sonhos dele também.

Este natal é a prova e começou para ambos com a candidatura aprovada, os estatutos de IPSS, a campanha de crowdfunding e a obra que nasceu. Ontem foi um misto de percurso que festejamos. Talvez por isso tenha este sabor de felicidade. Aprendemos a moldar-nos a quem faz parte de nós e quando nos apercebemos já sabemos de cor a outra pessoa e aceitamo-la como ela é. O Senhor Zé ensina-me todos os dias um bocadinho sobre a palavra afeto.

Diz muitas vezes que quem lhe vale sou eu, que é por mim que espera e em dias como ontem, mais especiais, apercebo-me que é o contrário.

Hoje emociono-me e choro porque o Senhor Zé sabe a conquista, para mim e todos os que agora me acompanham neste projeto. Com ele aprendemos e crescemos como pessoas e como profissionais a ser melhores.

Hoje tenho uma equipa que tudo faz para que ele mantenha o sorriso e viva com mais qualidade. Hoje o Sr. Zé é respeitado e acarinhado por pessoas no resto do país e até do mundo, onde a sua história chegou. E neste misto de natal que fomos acumulando ao longo de um ano atípico para todos, aprendeu a confiar novamente e recebe toda a gente bem. Hoje estou feliz por ele, por mim e por todos os que veem para lá da aparência e têm o privilégio de o conhecer. Este ano soube-nos a natal muitas vezes e a prova disso foi que ontem o Senhor Zé não teve vergonha de festejar e de abrir presentes – claro que nunca acerto no que ele quer, mas também já toda a gente sabe que não faço nada de jeito – e no fim de abrir tudo, dava tudo à Catarina se ela quisesse e precisasse. E isso demonstra onde o Sr. Zé se diferencia de quase todos nós. Na generosidade! Não faz para ter retorno. Não faz para parecer bem. Não faz porque é altura de… faz porque lhe está no sangue. Porque é um homem bom e se preocupa.

Porque para ele o mais importante não foram os presentes que lhe oferecemos, mas a companhia que lhe fizemos. E isso faz-me chorar! Chorar de alegria, de gratidão, de coração cheio! E só devíamos chorar por razões destas. Só devíamos querer nas nossas vidas pessoas e momentos assim, que nos enchem o coração e nos fazem sentir de bem com a vida.

No seu espaço novo, ainda falta luz, ainda falta água porque vivemos no país das burocracias e dos sistemas avariados e com motivos e desculpas para funcionarem menos bem

Mas isso não nos impediu de celebrar com muita alegria, porque o mais importante estava lá.

Desejou um natal como o que ele tinha tido a toda a gente.

“Pensei que estavam cá uma hora ou duas, como das outras vezes, mas hoje foi muito tempo!” Diz emocionado e para disfarçar acrescenta “Há-de ser raro o homem de uma certa idade que não lhe pingue o nariz e chorem os olhos…” E isso deixou-me a mim e à Catarina de lágrima no olho. Nunca é muito tempo para pessoas como o Sr. Zé.

O senhor Zé revive o amor e eu tenho a sensação que renasço.  

Muita saúde e um natal como o que vivemos ontem para todos!

 

Helena Saraiva