Rugas de Sorrisos

À vida no geral e em especial às vidas que cruzamos

Através da companhia, que é o serviço que nós no Rugas de Sorrisos destacamos, queremos dar mais sentido à vida.

À vida no geral e em especial às vidas que cruzamos.

E, para as vidas que cruzamos o Rugas de Sorrisos tem uma equipa multidisciplinar disponível para ajudar a despertar o que têm de melhor neles acompanhando-os ao domicílio de forma personalizada e adaptando-se às suas necessidades. Esta equipa, ajuda-me a criar mais valor num Rugas de Sorrisos que vai defender sempre que o mundo começa em cada um de nós.

Ver, ouvir, dar as mãos e caminhar seja qual for a direção, as mudanças e reajustes que tenham de se fazer pelo percurso… todas as vidas em qualquer fase, etapa e independentemente da idade deve sonhar e acreditar que (ainda) vale a pena.

Vidas devem ser sempre mais do que corações que batem, devem ser sempre mais do que possuir coisas… Vidas devem essencialmente existir!

No Rugas de Sorrisos tenho o privilégio de acompanhar vidas (e corações) que guardam memórias e histórias religiosamente. Vidas que misturam o que foram com o que são como nós o faremos um dia seguramente e, se o fizermos que seja com a mesma sabedoria, humildade e generosidade.

Falo de vidas que só com uma escuta ativa recuperam a existência, o brilho no olhar, a voz e a vontade…  vidas que com um abraço nos agradecem a presença, o afeto e a compreensão. Que nos contam o que mais os marcou e os sonhos que pensavam que já não fazia sentido ter, mas que de repente voltam a existir e lhes devolvem autonomia e auto-estima.

Podemos estar cá para fazer a ponte e os acompanhar nos pequenos e grandes momentos, mas esses momentos só são criados graças à sua sabedoria e essência. A diferença e a mudança estará sempre na coragem da partilha. E, partilhar requer muita coragem…

No sábado o Sr. Zé partilhou um grande momento connosco. O seu aniversário!

E, é uma bênção vê-lo somar mais um ano de sorriso (ainda) mais aberto no rosto, (ainda) mais esperança no olhar e aquela fé (agora) quase inabalável.

Sim a fé que temos dificuldade em manter quando a vida nos belisca e que ele vai recuperando a cada dia que passa com mais afinco e a entrega genuína que o caracteriza.

É tão bom acompanhar esta fé e fazer parte desta mudança em que tão poucos acreditaram!

No sábado partilhámos uma mesa improvisada na sua horta, almoçámos de prato nas mãos e  no momento de cantar os parabéns as velas apagavam-se com o vento… o brinde não foi feito com os copos de pé alto (próprios para estas ocasiões) e de champanhe, mas conversámos, rimos e vivemos o momento com a alegria e a autenticidade contagiante deste maravilhoso senhor.

Diz que aos poucos vou aprendendo e fazendo as coisas bem… e é verdade, acredito que sim. Como diria a Prof. Lourdes – outra das maravilhosas vidas que o Rugas de Sorrisos acompanha – “Devagar e sempre…” as coisas acontecem.

Ao dar as boas vindas aos 83 anos do Sr. Zé relembro o início deste acompanhamento e tantos progressos se fizerem desde então… muitos pequenos nadas compostos de tudo que são a base para o resto, que  no final me deixam de coração cheio ao perceber que continuo sem nada saber.

Isso transforma os meus dias em recomeços de uma aprendizagem constante. E isto é o melhor deste percurso com pessoas idosas que são verdadeiras enciclopédias de experiências diversas. Fazem-me perceber o privilégio de levar até eles o Rugas de Sorrisos e de estar sempre a aprender, para de seguida recomeçar.

O Sr. Zé é um exemplo e quantos mais haverá por aí, registados, mas sem rosto associado?

Quantas pessoas idosas temos no nosso distrito que com afeto e companhia teriam tanto para partilhar e descobrir ainda?

Quantos aniversários passam despercebidos – e não digam por favor que a partir de uma certa idade já não se festejam os anos, porque todos os anos são únicos e representam a vida que também o devia ser e respeitada como tal.

O Sr. Zé é só um senhor que me relembrou que quando gostamos aceitamos a pessoa como ela é e ajudamos só no que ela precisa.

Um senhor para quem – antes de terminar – vos peço um contributo dentro das possibilidades de cada um para que neste inverno possa dormir num quarto sem humidade, ter uma casa de banho, água e luz.

E o envelhecer acontece desde que nascemos até que morremos… não tiremos a vida a ninguém antes do coração parar.

O mundo começa em cada um de nós… a mudança também! Muitas Rugas de Sorrisos para todos e que o Sorrisos em Obras possa ser de nós todos também!

 Helena Saraiva